Quem conseguiu atravessar o período de pandemia sem ser abatido pela ansiedade merece um prêmio. Incerteza, notícias tristes, perdas dolorosas, confinamento, isolamento social… Se tudo isso afetou os adultos, que em parte sentem um pouco mais de controle em relação a toda essa situação, para as crianças tudo pode ser ainda mais complicado.

Ao contrário do que muitos pensam, a criança não fica totalmente alheia aos problemas dos adultos. Isso é evidente especialmente em momentos como esse, de pandemia, em que a rotina dos pequenos sofreu um grande impacto. Diante disso, é compreensível que a ansiedade infantil tenha aumentado.

Embora a ansiedade infantil tenha preocupado bastante nos últimos meses, ela não é um problema exclusivo do período de pandemia. Por isso, é importante saber como identificar sinais importantes e o que fazer para ajudar a criança ansiosa a superar o problema. Quer saber mais? Continue a leitura!

O que é a ansiedade?

Do ponto de vista clínico, a ansiedade é muito diferente daquela sensação de expectativa que temos diante de um acontecimento. É comum, entre adultos, dizermos “estou ansiosa pelo dia da viagem, da festa, de começar o novo emprego”.

Não é esse o sentimento de quem sofre com o transtorno de ansiedade. Essa pessoa, na verdade, lida com diversas situações de medo, tensão ou expectativa — reais ou imaginários — manifestando uma preocupação exacerbada.

Portanto, quando a ansiedade realmente se transforma em um transtorno, ela faz com que a pessoa deixe de viver o presente e concentre todos os seus pensamentos e energias no que pode acontecer de bom ou ruim (especialmente de ruim) no futuro.

Devido a isso, muitas pessoas ansiosas têm grandes prejuízos funcionais. Ou seja, elas não conseguem realizar as tarefas que deveriam agora justamente devido a esses pensamentos e preocupações com expectativas que nem se tornam realidade.

É normal a criança se sentir ansiosa?

É relativamente comum as crianças se sentirem ansiosas. Afinal, muitas situações ainda são uma novidade para os pequenos e, por não entenderem tão bem uma série de conceitos que os adultos dominam, o desafio pode ser maior.

Podemos citar como exemplo uma ida ao dentista. O adulto pode até não gostar do barulho do motorzinho, de ficar com a boca aberta, entre outras questões relacionadas a essa situação. Porém, ele já sabe o que esperar. A menos que ele tenha uma fobia, isso não causará uma crise de ansiedade.

Para a criança, essas situações são muito novas. Nem sempre o ela sabe o que esperar, pois mesmo que já tenha visitado o dentista, ela vê pessoas que estão sem dentes, por exemplo. Logo, ela pode supor que algo de ruim pode acontecer. É natural que fique mais ansiosa.

Algumas das situações que costumam deixar as crianças ansiosas são a ausência de pessoas que ela considera seu referencial de segurança, como os pais, chamada de ansiedade de separação. Já a permanência em ambientes externos, com muitas pessoas, pode despertar a ansiedade social. Inclusive, esses dois eventos podem acontecer na escola.

Algumas crianças desenvolvem um medo extremo de determinadas situações. Isso pode acontecer porque elas sofreram um trauma ou porque alguém com quem elas convivem demonstrou um medo irracional. O exemplo é o medo de cães, de insetos como a barata ou de ir ao médico.

Quando a criança apresenta preocupação excessiva com o futuro e com possíveis eventos desagradáveis, mesmo sem ter um motivo para acreditar que eles acontecerão, é importante prestar atenção. Esse pode ser um primeiro sinal de ansiedade geral.

Já os episódios de medo intenso, repentino e inesperado, acompanhados por sintomas físicos (palpitação, tremor, suor, dificuldade para respirar) podem configurar um possível transtorno do pânico. É importante ir ao médico para que a criança tenha o acompanhamento adequado.

É válido destacar que houve um aumento dos casos de ansiedade infantil durante a pandemia. Segundo um estudo do Instituto de Psiquiatria da USP, que analisou o comportamento de 7 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, 27% delas apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão.

Quais são os sintomas da ansiedade infantil?

Muitos dos sintomas de ansiedade infantil são comuns também no adulto. Porém, ela se evidencia ainda no desempenho da criança em atividades de rotina, como o estudo. Portanto, alguns sinais que não podem ser ignorados pela família são:

Sintomas físicos

  • alterações no apetite (parar de comer ou comer demais);
  • dificuldade para dormir;
  • tontura;
  • dores de cabeça.

Mudanças no comportamento

  • desmotivação, desânimo;
  • preocupação;
  • medo irracional;
  • preocupação excessiva;
  • irritabilidade;
  • apatia;
  • oscilações de humor;
  • retraimento social;
  • queda no rendimento escolar.

Esses sintomas podem surgir e desaparecer em períodos alternados. A intensidade e a duração também variam de acordo com cada criança. No entanto, é importante ficar atento à repetição desses sinais e principalmente a possíveis prejuízos funcionais e nos relacionamentos interpessoais.

Lembramos que, nesse período de pandemia, tudo pode ser ainda mais assustador para as crianças. Afinal, elas são bombardeadas com notícias negativas, passaram a ficar confinadas e não têm a mesma compreensão dos fatos que um adulto.

Você e eu sabemos que já aconteceram outras pandemias ao longo da História, que esses ciclos vêm e vão, que todo o mundo está empenhado em soluções. Isso não minimiza as perdas, mas faz com que nos sintamos menos inseguros.

A criança ainda não tem esse conhecimento e nem essa maturidade. Sua noção de tempo também é diferente da nossa e alguns meses podem parecer uma eternidade. Portanto, é muito importante ficar atendo aos sintomas da ansiedade e proporcionar ajuda assim que houver necessidade.

Como lidar com a criança ansiosa?

Mas o que fazer ao perceber que a criança está ficando ansiosa? A maneira como a família lida com o problema pode ajudá-la a sentir-se mais segura, evitando que o transtorno se torne mais grave. Selecionamos algumas dicas que podem ajudá-lo:

1. Estabeleça uma rotina

A rotina tem um papel importantíssimo para a criança. Se ela percebe que seu dia e sua semana são previsíveis, quais são as atividades que sempre vêm depois, ela se sente mais segura e tende a ficar menos ansiosa.

2. Realizem atividades prazerosas

Felizmente, estamos nos aproximando do fim do período de confinamento. No entanto, mesmo em casa, é importante realizar atividades prazerosas: jogar em família, assistir a um filme juntos, brincar de algo que a criança goste. São formas de aliviar a tensão do dia a dia.

Assim que for possível, leve as crianças para brincarem em ambiente aberto. É fundamental, para elas, tomar sol e gastar energia pulando, correndo, subindo e descendo de brinquedos, praticando esportes. Movimento é vida, principalmente para os pequenos.

3. Priorize a alimentação saudável

A relação entre o cérebro e o intestino ainda é um tema pouco discutido. Porém, atualmente sabe-se que muitas das substâncias que causam a sensação de tranquilidade e bem-estar são produzidas no intestino, e as bactérias que vivem ali são as grandes responsáveis por esse processo.

Portanto, cuidar da alimentação de uma criança é fundamental para prevenir e controlar a ansiedade. Alimentos saudáveis geram uma microbiota intestinal equilibrada, que favorece a saúde mental.

Por outro lado, existem muitos produtos alimentícios que são naturalmente estimulantes. Na alimentação da criança, os principais costumam ser carboidratos refinados, doces e refrigerantes. Eles exercem um impacto negativo sobre a saúde, inclusive sobre os aspectos mentais.

4. Regularize o horário de sono

Criança precisa dormir cedo. Prometemos que teremos um artigo sobre este tema aqui no blog, mas o fato é que ficar acordado até tarde faz mal, inclusive para os adultos. Ocorre um desequilíbrio hormonal e dos neurotransmissores, o que não favorece a saúde mental.

5. Filtre as informações

A criança não precisa receber todas as informações. Notícias ruins abalam a saúde emocional delas, tendo um alto impacto em seu bem-estar. Aliás, isso não vale apenas para as notícias, e sim para todo o conteúdo que elas recebem pela mídia.

6. Desenvolva a inteligência emocional da criança

É importante que a criança aprenda a reconhecer suas emoções e também estratégias que permitam canalizá-la da maneira correta. Em outras palavras, ao desenvolver a inteligência emocional dos filhos, os pais os ajudam a lidar com sentimentos, expectativas e frustrações.

Inclusive, nós já temos aqui no site um artigo que fala sobre como desenvolver a inteligência emocional da criança. Então, se você entendeu a importância de ajudar seus filhos a lidarem com seus sentimentos e prevenir a ansiedade infantil, é só clicar no banner abaixo para acessar!

Inteligência emocional nas crianças